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04.01.1954 – 10.08.2020
“As artes e a cultura angolana estão de luto, pelo desaparecimento de um dos seus mais notáveis representantes de projecção internacional, cujo legado permanecerá com destaque no acervo da música nacional”. (Embaixada de Angola em Lisboa)
“Waldemar Bastos foi “um músico maior” e na memória ficam canções intemporais, uma voz de dor e de esperança, uma discografia única no cancioneiro angolano e de língua portuguesa.” (Carlos Seixas, Director do Festival de Teatro de Almada e no Festival de Músicas do Mundo de Sines).
“Acho que o que tem de ser celebrado aqui é, de facto, a estética musical, a integridade, a honestidade intelectual e a forma como, durante tantos anos de carreira, nunca perdeu os seus princípios e naquilo em que acreditava.
A pureza das suas composições, das suas melodias, desde cedo nos ajudaram a encontrar uma identidade angolana que ainda procura definir-se completamente”. (Paulo Flores, músico angolano)
“Waldemar Bastos deixa um legado muito importante. Traduziu com muita qualidade a nossa angolanidade. A forma como traduzia nas músicas as emoções e os sentimentos, era de uma elevação muito atenta, muito profissional e com muita qualidade”. (Luandino de Carvalho, Adido Cultural da Embaixada de Angola em Portugal)
“Ele era uma pessoa muito séria, muito crente, ao ponto de deixar de tocar com os amigos num sábado à noite porque no dia seguinte tinha de ir à igreja. Waldemar era assim, era uma pessoa que discutia qualquer assunto com alma. É um homem que respeitava muito a cultura angolana, em particular, e africana, em geral. Era, de facto, um homem africano, um homem do mundo. Perdemos um amigo, um bom homem. Tenho imensa pena.” (Barreto Faria, músico)
“As canções de Waldemar Bastos abraçam a alma, fazem-nos reviver outras épocas, transportam-nos para outros períodos da História da Angola.
Artista único e completo, foi um exímio e extraordinário embaixador do melhor da cultura musical angolana. Possuidor de um timbre único, voz, as suas melodia e letras que não nos deixam indiferentes.
Foi um exemplo do que de melhor se pode criar quando o génio humano se revela e predispõe para tal”. (Flora Neves, Estudos Africanos)
Homenagem de David Byrne a Waldemar Bastos – Ler na sua página oficial.
Semba, World music.
Waldemar Bastos, nasceu no dia 4 de Janeiro de 1954, em São Salvador, actual Mbanza Congo.
Filho de Carlos de Almeida Bastos, natural de Lobito e de Guiomar de Souto Veiga Bastos, natural de Zavula.Teve dois irmãos, tendo um deles falecido ainda jovem.
Laureana Gomes da Silva Paz, foi a companheira e esposa, com quem partilhou 40 anos de vida. Tiveram três filhos: Walter Bastos, Edair Paz Bastos e Sidney Paz Bastos.
Infelizmente, aos 19 anos de idade, o filho Walter Bastos, foi assassinado em Portugal, no dia 27 de Julho de 1997, na discoteca “Faraó”, na Praia de Santa Cruz, concelho de Torres Vedras. Essa tragédia pessoal, marcou profundamente Waldemar Bastos e toda a sua família.
Foi filho de pai e mãe enfermeiros, que dedicaram a sua vida ao combate de doenças tropicais. Devido a sua profissão, estes eram muitas vezes transferidos para outras províncias durante o período colonial. Por essa razão, saiu da sua terra natal antes de completar um ano, exactamente pela necessidade que os seus pais tinham de se deslocar regularmente para diferentes regiões.
Viveu em Cabinda, Huambo, Luanda e Mbanza Kongo.A convivência com diferentes culturas, contribuiu significativamente para a sua riqueza cultural e processo artístico.
Foi aluno de engenharia eletrotécnica, mas nunca completou os estudos. A seguir à independência, em 1975, exilou-se em Portugal para escapar à guerra civil que assolou o país. “Havia agressões, Angola era agredida pela África do Sul. Havia uma série de problemas. A arte não era prioritária”, explicou à RTP em 2006.
Em Portugalviveu grandes dificuldades, tendo chegado a gerir um restaurante no Bairro Alto, em Lisboa, ao lado da mulher.
“Vivi muitos anos de milagre. A minha vida devo-a a Deus. Deus deu-me sempre de comer e nunca vendi a minha dignidade”, afirmou em 2006. “Sou um homem normal, pecador, mas não dei a ninguém o diamante que Deus me deu, porque o talento é uma oferta que Deus dá para a desempenharmos com muita dignidade. Se os pássaros comem sem cultivar, quanto mais os homens, que são inteligentes.”
Em 2019, voltou à sua terra natal volvidos vários anos, quando foi convidado a participar da 1ª edição do Festikongo (Festival Internacional da Cultura e das Artes Kongo), em Angola.
O evento serviu para celebrar o segundo aniversário da elevação do antigo Reino do Congo a Património da Humanidade pela UNESCO.
Segundo palavras suas, o regresso foi sentido da seguinte forma: “A primeira palavra que eu encontro é: inexplicável. Era um conjunto de emoções de tal ordem intensas, que fiquei num estado de serenidade, de muita acalmia, porque acabava de me encontrar com o meu sonho. Encontrei Mbanza Kongo como eu sentia e vivia através dos olhos da alma”.
© Página Oficial Facebook de Waldemar Bastos
Quando tinha seis anos, a mãe ouviu-o a assobiar uma música da rádio e espantou-se.
Nesse Natal, ofereceram-lhe um acordeão que ele aprendeu a tocar sozinho e só depois de se mudarem para Cabinda é que ele começou a aprender música com um professor.
Considerava que a carreira de músico e compositor se tinha iniciado aos sete anos, quando o pai (violoncelista e organista da Igreja da Sé de Luanda) o descobriu a tocar no acordeão oferecido um ano antes, as músicas que passavam na rádio, tendo recebido do pai, a influência da música sacra, visível no registo expressivo da sua portentosa voz.
“Para nos ensinar a tocar, o professor mandava vir pautas de Portugal e demoravam muito tempo a chegar, pois iam de barco. Mas eu ouvia as músicas na rádio e tocava-as no violão. Então o professor passou a escrever as notas a partir do que eu tocava. Tinha um ouvido excepcional.
“O talento que Deus me deu foi uma dádiva. Não toco instrumentos de sopro, porque nunca me interessei. De resto, qualquer instrumento de cordas ou de teclas não é difícil. A música para mim não é difícil”, disse em 2006, em entrevista à RTP.
“Juntamente com o que ia escutando do meu pai e as canções que ouvia o meu povo cantar por onde passava, tudo isto me facultou um grande universo musical. Nasci com capacidade de compor naturalmente e tudo o que toquei e ouvi ficou retido em mim e veio saindo cá para fora, mantendo sempre a estrutura da minha alma e da alma angolana.”
Influenciado pelo êxito dos “Jackson 5”, começou a tocar guitarra e as suas primeiras atuações foram, ainda novo, com conjuntos de baile. Em Cabinda, fundou a banda “Jovial”, seu primeiro grupo musical(com Carlitos Freitas, Lúcio Bastos, Faísca, e Fernando Gomes).
1961 – Estávamos numa época de forte repressão colonial e Waldemar Bastos gravou na memória as rusgas, prisões e deportações dos nacionalistas angolanos, factos que despertaram nele, enquanto compositor, um forte sentimento de pertença aos pressupostos culturais da angolanidade e de emancipação da cultura portuguesa.
A absorção da cultura musical luandense, expressa em canções emblemáticas como “Velha Chica” e “Mungueno”, foi possível graças a frequência nos ambientes de tertúlia dos bairros Marçal e Indígena, no início dos anos sessenta do século vinte.
Deste tempo, Waldemar Bastos recordava com visível nostalgia, a velha Maricota, a Chiló, uma mulher que jogava futebol de bairro, e os mais velhos Sá Lemos, Lutero da Popa, Pedro Benje e Mário Campos (os dois últimos muito chegados ao seu pai, pela amizade).
1972 – Waldemar Bastos foi preso pela PIDE, em 1972, aos dezassete anos de idade, sob acusação de “actividades subversivas e mau comportamento”, comentou, angustiado, o próprio.
Os pais presos e os irmãos na frente de combate, durante o recuo para Luanda em consequência da guerra no Huambo, e o apelo da avó (mãe do pai) autora dos versos “Filho não fala política, cuidado onde vais…”, foram ingredientes mais que suficientes para a criação da canção, “Velha Chica”, um tema que veio a ser gravado no seu primeiro álbum, “Estamos juntos” (1983).
1977 – Waldemar Bastos ganhou o “Grande Prémio da Canção”, um concurso promovido pelo Ministério da Cultura de Angola e participou em diversos festivais realizados em Cuba e em países do leste europeu.
1982 – Integrado numa delegação artística angolana ao FITEI (Festival Internacional de Expressão Ibérica) em Portugal, Waldemar Bastos decidiu permanecer em Lisboa.
1983 – Gravou o seu primeiro álbum (“Estamos Juntos”) no Brasil, apadrinhado pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque de Holanda contando com convidados como João do Vale, Dorival Caimmy, Martinho da Villa e Novelli. De volta a Portugal, gravou em 1990 o segundo disco (“Angola, Minha Namorada”).
Ainda neste ano, foi membro Fundador da “União dos Artistas e Compositores Angolanos”.
1995 – A editora Luaka Bop, do cantor e compositor norte-americano David Byrne (ex-Talking Heads), lançou no mercado o disco “Afropea – Telling Stories to the Sea”, uma antologia de artistas lusófonos na qual apareciam, entre outros, Waldemar Bastos, Bonga, Cesária Évora, Dany Silva, Vum-Vum e André Mingas.
1998 – David Byrne, de visita a Lisboa, apaixonou-se, primeiro pela capa do CD, “Angola, minha namorada”, quando passava por uma loja de discos, e depois pela música “Ngana”.
Era o início de uma nova caminhada e consagração internacional, pela mão de David Byrne(e da sua editora LuakaBop) que culminou com a gravação, nos Estados Unidos da América, nesse ano do álbum “Pretaluz/Blacklight”. O álbum teve excelentes críticas da imprensa internacional.
1999 – Recebeu o prémio “New Artist of theYear” nos World MusicAwards, promovidos pelo príncipe do Mónaco.
Nesse mesmo ano, o jornal “New York Times” considerou o seu disco “Pretaluz/Blacklight” um dos melhores discos de World Music da década.
2001 – Foi o único intérprete não fadista, a cantar na cerimónia de transladação de Amália Rodrigues para o Panteão Nacional, em Lisboa. Ele e a fadista tinham sido amigos próximos e admiravam o trabalho um do outro.
2010 –“Classicsof My Soul”foi eleito um dos álbuns do ano na categoria de “World Music” pelo jornal francês “Libération”.
2014 – A convite da Chanceler alemã, Angela Merkel, foi um dos convidados para as comemorações dos 25 anos da queda do Muro de Berlim.
© Página Oficial Facebook de Waldemar Bastos.
“Entre Povos, entre Nações, entre Bandeiras, entre Irmãos e Irmãos aqui partilho um momento especial vivido ao lado de Jermaine Jackson, a Estrela e mais Velho dos Jackson 5, em Berlim, no passado sábado. Na altura comemorávamos a Queda do Muro de Berlim.
Hoje comemoramos a Independência de Angola. Parabéns Angola! Parabéns Pátria Mãe! Uma Nação para o Mundo”. Waldemar Bastos
2017 – Foi considerado Músico e Cantor Internacional no “X Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora”, em Lisboa.
2018 – O músico foi distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, a mais importante distinção do Estado Angolano nesta área.
Waldemar Bastos consta do livro “1.000 Recordings To HearBeforeYou Die”, (“1.000 Gravações para ouvir antes de morrer”), escrito por Tom Moom, um dos mais respeitados e críticos de música dos Estados Unidos da América, onde o seu nome aparece no capítulo “Music to inspire reflection” (“Música para inspirar à reflexão”) e “Contemplação do Cosmos” (ao lado de J. S. Bach, uma referência universal da música clássica) de entre outros nomes consagrados da música internacional.
Colaborou com grandes músicos, como Ryuichi Sakamoto ou Dulce Pontes. Gravou com a Orquestra Gulbenkian, com a London Symphony Orchestra e com outras orquestras, tendo actuado nas mais importantes salas de espectáculos em todo o mundo.
Gravaram músicas de Waldemar Bastos, para além de cantores angolanos, entre outros, os Genesis (Reino Unido), os artistas Sadazzinia e Active Member (Grécia), Michaella (Holanda), Hinka, Dulce Pontes e Boss AC (Portugal).
Aos 66 anos de idade, em Lisboa, no dia 10 de Agosto de 2020, faleceu vítima de doença prolongada.
1983 – Estamos Juntos (EMI Records Ltd)
1989 – Angola Minha Namorada (EMI Portugal)
1992 – Pitanga Madura (EMI Portugal)
1997 – Pretaluz(Blacklight) (LuakaBop)
2004 – Renascence (World Connection)
2008 – Love Is Blindness
2012 – Classics of My Soul
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