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(12.05.1939 – 04.01.2024 )
“O homem que deu voz às aspirações do povo angolano e cantou como poucos a nossa dor e ânsia por liberdade.”
Kalaf Epalanga (músico e escritor angolano, numa crónica que fez para a revista brasileira “Quatro Cinco Um”, em 2020.
“…dia tristíssimo. Morreu Ruy Mingas, nome maior da música popular urbana de Angola. Um grande intérprete, um compositor absolutamente genial, que, na esteira dos N’Gola Ritmos, inventou a melhor banda sonora das nossas vidas. Vou sentir muitas saudades da sua gentileza, da sua generosidade, da sua tranquila sabedoria, mas sei que terei até ao fim a luz da sua música. Muito obrigado, tio Ruy! Até sempre!… “ Escreveu o Escritor Eduardo Agualusa na sua página do Instagram.
“Homem multifacetado” e de “muitos talentos” que “deixa muitas saudades”. “Serviu Angola, serviu a causa nacionalista, mas também contribuiu para a amizade entre Portugal e Angola”.
É uma figura que suscita o maior carinho, tanto em Angola, como em Portugal e devemos-lhe muito”. Toda a sua obra é muito conhecida nos dois países, sobretudo os “Meninos do Huambo”, uma música “ao serviço da causa nacionalista”, mas que contribuiu para aproximar os dois povos.
Embaixador português em Angola, Francisco Alegre Duarte (em excerto do artigo da Agência Lusa).
“Alguns desses poemas foram de poetas do verdadeiro nacionalismo angolano que lutaram contra o colonialismo português e Ruy Mingas valorizou-os, cantando e musicando esses poemas que ficaram no colectivo de todos os angolanos como músicas de resistência e do amor à Angola, marcando toda uma geração”Mário Pinto de Andrade, deputado do MPLA, académico e reitor da Universidade Lusíada – a primeira universidade privada angolana, a cuja criação esteve ligado a Ruy Mingas.Excerto do artigo da Agência Lusa.
Músicas de Intervenção e ritmos tradicionais angolanos
Ruy Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas, mais conhecido por Ruy Mingas, nasceu do 12 de Maio de 1939 em Luanda.
Filho de André Rodrigues Mingas e de Antónia Diniz de Aniceto Vieira Dias. Foi casado com Julieta Cristina da Silva Branco Lima. Teve 4 filhos: Katila Mingas (cantora), Ângela Cristina Mingas (Arquitecta), Nayma (Modelo) e o Carlos Mingas (Produtor de eventos).
A sua família desempenhou um papel importante na história de Angola, com diversos irmãos que se destacaram em diferentes áreas. André Mingas Júnior (Político, Cantor e Compositor), Amélia Mingas (Linguista e Pesquisadora), Júlia Rodrigues Mingas (Atleta e Administradora), José Rodrigues Mingas (Comandante da Polícia) e Saíde Mingas (Economista, Escritor e Político).
Ruy Mingas, era sobrinho de Liceu Vieira Dias, uma figura crucial na música popular de Angola. Liceu Vieira Dias, co-fundador dos lendários “N’Gola Ritmos” no final da década de 1940, destacou-se como um combatente contra a opressão colonial portuguesa. O Estado Novo deteve-o por vários anos no temido campo de concentração de Tarrafal, localizado em Cabo Verde.
Ruy Mingas fazia parte de uma família com um legado musical influente em Angola. Absorveu influências musicais e rítmicas do seu tio Liceu Vieira Dias, as quais tiveram um impacto significativo na sua abordagem musical.
Ao longo de sua trajectória musical, Ruy Mingas desenvolveu uma sonoridade distintiva, seguindo o conselho de seu tio Liceu Vieira Dias de aprimorar o seu ouvido musical. Influência essa, que também ficou patente no seu irmão André Mingas Júnior, um cantor também notável.
Antes de se tornar Ministro e Embaixador de Angola no período pós-independência, Ruy Mingas destacou-se no mundo do desporto.
Em 1959, tornou-se atleta do Sport Lisboa e Benfica, competindo nas categorias de 110 metros barreiras e salto em altura. Em 1960, Ruy Mingas estabeleceu um novo recorde nacional no salto em altura (com 1,90 metros).
Depois da vida desportiva, Ruy Mingas dedicou-se à música e, envolveu-se profundamente na luta independentista e anticolonialista de Angola, tornando-se uma figura de destaque nesse movimento.
Fonte: Página Oficial do Facebook do Cantor Ruy Mingas
(Copyright Património iconográfico do Sport Lisboa e Benfica Fundação Benfica em 1957.)
Ruy Mingas começou sua carreira musical na década de 1960, numa época em que Angola estava viver profundas mudanças sociais e políticas, marcadas pela luta pela independência do domínio colonial português.
A sua música muitas vezes reflectia as esperanças, aspirações e desafios enfrentados pelo povo angolano durante esse período turbulento. As suas letras eram poéticas e frequentemente abordavam temas como o amor, identidade cultural, liberdade e justiça social.
Em 1969, o público em Portugal teve a oportunidade de conhecer Ruy Mingas através de sua apresentação no programa de televisão “Zip Zip”, transmitido pela RTP (Rádio Televisão Portuguesa). Nesse evento histórico, Ruy Mingas foi introduzido ao público português pelos apresentadores Fialho Gouveia, Raul Solnado e Carlos Cruz.
Durante a sua performance, foi acompanhado nas percussões pelo cantor angolano Bonga, deixando uma marca significativa na cena musical e cultural da época em Portugal. Essa participação representou o ponto de viragem na sua trajectória nos palcos musicais.
Em 1970, é feito o lançamento do seu álbum de estreia, “Angola”, em Portugal, Espanha e França e Itália, demonstrando o seu prestígio a nível internacional.
Foi co-autor do Hino Nacional angolano, ao lado do Escritor e Dramaturgo Manuel Rui.
Ruy Mingas foi um homem de múltiplos talentos, não apenas como atleta, mas também como Poeta, Cantor e Compositor. A sua contribuição para a música angolana foi notável, destacando-se como co-autor de canções como “Meninos do Huambo,” que se tornou famosa em 1985 na voz de Paulo de Carvalho.
No entanto, Ruy Mingas já havia tido um impacto significativo na música portuguesa antes que o público português o conhecesse pessoalmente. Ele apresentou a Carlos Mendes e Paulo de Carvalho a música clássica “Summertime” de George Gershwin, que foi gravada pela banda portuguesa de Yéyé, “Sheiks” no seu primeiro single, em 1965.
Durante esse período, ele também se envolveu nas actividades dos estudantes africanos em Portugal e participou da banda Ngola Kizomba, que surgiu na Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa.
A título de curiosidade, importa referir que a Casa dos Estudantes do Império (CEI) foi estabelecida em 1944 pelo Estado Português, com o propósito de promover a interacção entre estudantes universitários provenientes das antigas colónias portuguesas, que não tinham acesso a instituições de ensino superior nos seus territórios e, necessitavam assim, de continuar os seus estudos em Portugal. Esse objectivo fazia parte de uma abordagem mais ampla, que visava também formar líderes que pudessem contribuir para a realização dos objectivos do regime colonial vigente.
Através de suas criações musicais, Ruy Mingas deu voz aos versos de destacados poetas envolvidos na luta pela independência de Angola, como Viriato da Cruz, Mário António, António Jacinto e o futuro primeiro Presidente de Angola, Dr. Agostinho Neto.
A sua colaboração com Manuel Ruy resultou na criação de diversas obras notáveis, incluindo o Hino Nacional de Angola e a icónica música “Meninos do Huambo” em 1976.
Ruy Mingas, deixou um legado musical marcante com outras canções memoráveis, tais como “Birin birin,” “Ixiami,” “Poema da farra,” “Adeus à hora da largada” ou “Monangambé.”
Após o 25 de Abril de 1974, em Portugale a independência de Angola, em 1975, Ruy Mingas redireccionou sua atenção para a esfera política, ocupando vários cargos no Governo angolano e, posteriormente, como embaixador.
O seu compromisso e a sua notável contribuição para a política renderam-lhe a honra da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, concedida por Portugal, no dia 26 de Julho em 1995. (A Ordem do Infante D. Henrique é uma distinção conferida a personalidades que tenham prestado serviços significativos a Portugal, contribuído para a difusão da cultura portuguesa ou promovido o conhecimento de Portugal, sua história e seus valores)
Ocupou o cargo de Ministro da Educação Física e Desportos de Angola entre 1979 e 1989, tendo sido nomeado, a partir do ano seguinte (1990), Embaixador de Angola em Portugal, cargo que ocupou até 1995.
A sua gestão possibilitou a entrada de Angola no Comité Olímpico Internacional e viabilizou a participação do país nas Olimpíadas de 1980 em Moscovo. Além disso, durante o seu período de liderança, ocorreram em Angola, os “II Jogos da África Central” (1981), englobando diversas modalidades.
Após a sua saída da política, já no início do século XXI, Ruy Mingas destacou-se como um defensor incansável da educação como elemento essencial para o progresso de seu país, desempenhando um papel importante na criação da primeira Universidade privada de Angola, a Universidade Lusíada. Esta instituição de ensino superior, foi um marco significativo no desenvolvimento do sistema educativo do Ensino Superior angolano, com Polos em Benguela, Luanda, Cabinda e outras cidades.
Fonte: Página Oficial do Facebook do Cantor Ruy Mingas
(Copyright Património iconográfico do Sport Lisboa e Benfica Fundação Benfica em 1957.)
Em 2010, recebeu o Prémio de “Arte, Cultura e Letras” da Academia Francesa de Educação, devido à sua contribuição para a cultura.
Em 2014, Ruy Mingas recebeu um prémio concedido pela Sociedade Portuguesa de Autores.
Em 2016, foi agraciado com o prémio Personalidade Lusófona, entregue pelo Movimento Internacional Lusófono.
Embora tenha se envolvido em diversas actividades ao longo de sua vida, a música sempre permaneceu como uma parte intrínseca e fundamental de sua identidade e trajectória.
Ruy Mingas, amplamente reconhecido por seu talento musical, deixou uma marca indelével na sua carreira. A sua interpretação única foi notável em várias obras, como a famosa canção “Monangambé” (1974), que apresenta versos de António Jacinto (“Naquela roça grande tem café maduro/ e aquele vermelho-cereja/ são gotas do meu sangue feitas seiva”).
Ruy Mingas faleceu em Lisboa, no dia 4 de Janeiro 2024, aos 84 anos.
Estamos certos que o seu legado musical permanecerá e continuará a influenciar músicos e a encantar amantes da música, em Angola e além fronteiras.
A sua contribuição para a cultura de Angola e à Lusofonia é inegável e as suas músicas vão permanecer vivas na memória e nos registos da nossa História.
1970 – Angola (1970)
1974 – Temas Angolanos
IxiAmi (Minha Terra)
2011 – Memória (2011)
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