Lilly Tchiumba
Cantora angolana Lily Tchiumba em retrato a preto e branco

(16/07/1939 – 25/07/1989)

Lilly Tchiumba - Algumas frases e pensamentos

“Há um esquecimento do nome da minha irmã na história da Música Popular Angolana que todos nós temos de alterar. Creio que ela merecia uma remasterização e reedição dos seus discos, aliás, tenho saudades de já não poder cantar com ela. A sua voz era modulada e cromaticamente extensa”.
(Excerto de entrevista de Eleutério Sanches ao “Jornal de Angola”, 2016).

 

Lilly Tchiumba tinha um timbre de voz potente, que se soltava completamente quando cantava as suas raízes, em kimbundo e o ritmo e a força dos instrumentos musicais que a acompanhavamnas suas canções, davam-lhe um tom muito vibrante.
Foi uma intérprete, dotada denotáveis recursos vocais, de que a história da Música Popular Angolana se pode orgulhar de ter tido, entre os seus mais destacados representantes.
(Flora Neves)

Estilos musicais

Música Popular Angolana

História Pessoal

Maria Olívia Sá Sanches nasceu em Luanda no dia 16 de Julho de 1939, irmã de Eleutério Sanches (músico e pintor) e de Carlos Sanches (músico).

 

Maria Olívia de Sá Sanches, conhecida pelo seu nome artístico, Lilly Tchiumba, adoptou o nome, por sugestão da escritora Nita Lupi (1900-1999, nome literário da poetisa e cantora lírica portuguesa Mariana Duarte de Almeida Lupi), que passou por Angola no princípio dos anos sessenta do século XX.

 

Estudou no Liceu Salvador Correia, onde estudou também o seu irmão, Eleutério Sanches. Ambos integraram, como solistas, o “Orfeão” do mesmo Liceu, no final dos anos cinquenta do século XX.

 

Estreou-se a cantar aos 21 anos no Uíge (cidade anteriormente denominada de Carmona). Cantava a solo ou em dueto com o irmão, sendo muito apreciados pelo público.

 

O seu irmão, Carlos Sanches, foi seu parceiro na composição e interpretação de vários temas de sucesso, como: “Canto Híbrido”,“Serenata a Luanda”, “Luanda Ai Ué”, “Luanda é um cafeco”, “Musseque Saudade”, “As Belas de Sangandombe” e “Dianda”.

Carreira Musical

Em 1964 ganhou o 1º prémio do Festival da Canção de Luanda. “O Meu Canto é Pranto” e “Coração Vazio” são os seus principais êxitos musicais.


Teve uma carreira de sucesso nas décadas de 60 e 70 do século XX. A sua voz, as letras e capacidade de interpretação, cativavam qualquer amante da música, tendo sido a primeira mulher negra a participar no Festival RTP da Canção.

 

Lilly Tchiumba escreveu e compôs canções sobre Angola, com base em histórias e músicas tradicionais que aprendeu ao crescer, na sua capital, Luanda. Cantou em Kimbundu, uma das línguas nacionais de Angola, onde era acompanhada por violas, ungo, kabaca-puita, e um tambor n’goma.

 

A música também reflectiu a influência portuguesa, em resultado do domínio colonial português em Angola.


As suas canções vão desde um pai a lamentar uma criança doente (“N’Zambi”) ao elogiar do papel da mulher na sociedade angolana (“Muáto Muá N’Gola”).

 

O sucesso de Lilly Tchiumba começou em 1967, quando participou na opereta de Raul Indipwo “Rua d’Iliza” e recebeu um convite para gravar o seu primeiro álbum pela Editora Valentim de Carvalho. Assim,o seu Single de estreia – “Lilly Tchiumba – Canta Angola” – foi lançado nesse mesmo ano de 1967.

 

Lilly Tchiumba cantou com o seu conjunto musical, N’Ga Muambela Kia, e interpretam várias canções folclóricas angolanas, com destaque para “Santo Antonho”, “Paxi Ni N’Gongo”, “Pakande” e“N’Ga Muambela Kia”.

Lilly Tchiumba

DR © Fotografia por: Eleutério Sanches em dueto com a sua irmã de nome artístico Lilly Tchiumba.

Gravou um outro álbum, com o seu irmão Eleutério, chamado “Mornas e Coladeras”, que apresentava repertório de Cabo Verde, onde os irmãos também tinham raízes.

 

Mais tarde, apareceu no programa “TV Clube” da RTP (Rádio Televisão Portuguesa), apresentado por Artur Agostinho (um dos mais conhecidos locutores de rádio e apresentadores da televisão portuguesa), que estava repleto de música tradicional africana do Império Colonial Português.

 

Lilly actuou ao lado de cantores notáveis como Mário de Melo, Loyola Orsino e Viçoso Caetano, que cantaram repertório de Cabo Verde, da Índia portuguesa e de Moçambique, respectivamente.

Segredo do Sertão” foi uma dessas canções, que não chegou a ser gravada em disco.

 

Em 1968, cantou na televisão portuguesa (RTP) com outro grupo de origem angolana, os “Duo Ouro Negro”, no programa musical “Rua d`Iliza”, tendo o programa sido idealizado pelos próprios“Duo Ouro Negro”.

 

Tratava-se de uma opereta africana com música, texto, coreografia e direcção de cenas assinadas por Raul Indpwo e Milo Mac-Mahon.

 

Em 1969, participou no VI Grande Prémio do Festival da Canção da RTP, com a música “Flor Bailarina”. Para contextualizar, nesse ano, a vitória no Festival, foi para Simone de Oliveira e a sua canção “Desfolhada”, uma das canções vencedoras de Festivais da RTP, mais conhecidas de sempre.

 

Continuando ligada à música, Lilly Tchiumba lança em 1973, o seu primeiro LP, álbum, intitulado “N´Zambi é Deus”. A edição teve o selo da editora discográfica “Estúdio”.

 

Este álbum, de Música Popular Angolana, reúne os seus principais momentos musicais da cantora. Aqui, podemos encontrar as canções: “Nzambi”, “Monakingui xiça”, “Ngongo Giami”, “Manazinha”, “Dilagi bu kanga”, “Muatu muángola”, “Muadié diá Muxima”, “Monami”, “Kubata diá Rosinha”, “Luanda Mbolo”, e “Gienda diá Luanda”.

 

O álbum passou a ter uma grande procura internacional, muito depois da sua morte.

Infelizmente, a cantora, já não se encontrava entre nós, para testemunhar este facto, pois faleceu prematuramente.

 

Lilly Tchiumba foi uma estrela da música angolana, pertencente à mesma geração de músicos como, os“Duo Ouro Negro”, Belita Palma e Lourdes Van-Duném, Teta Lando, Bonga ou Waldemar Bastos, tendo-se afirmado como uma das vozes femininas mais marcantes da música angolana no exterior.

Maiores sucessos

Pela singularidade dos temas cantados no seu álbum “N’Zambi É Deus” (de 1973), intrinsecamente ligados à vida, como ela acontecia na realidade angolana, deixamos a seguir uma introdução aos mesmos, pois as notas de capa do LP, incluíram breves resumos das histórias em cada canção.


1. “N’Zambi é Deus”: Uma mãe está dividida entre a sua reverência por Deus e a sua impotência para salvar o seu filho doente.

 

2. “Mona Ki N’Gui Xissa” (A Filha que deixo para trás): Antes de morrer, um pai pede aos seus amigos que tomem conta da sua filha e a ensinem a trabalhar para o povo.

3. “N’Gongo Giami” (Minha angústia):O jovem está a morrer, mas não sabe porquê, perguntando à sua mãe porque é que isto está a acontecer.

 

4. “Manazinha”: Uma bela mulher, por muito que esteja vestida de luxo, continua a ser a vítima dos colonialistas.


5. “Dilagi Bu Kanga” (Curandeiro): Quando os curandeiros estão à solta, é preciso levar as mulheres e as crianças para dentro de casa, fechar as portas e janelas e ficar em casa.

 

6. “Muato Mua N’Gola”(Mulheres de Angola): Todas as mulheres de Angola devem ser respeitadas, independentemente da sua condição ou posição social e têm o direito de lutar pela sua posição na sociedade”.

 

7. “Madié Diá Muxima”: “Ouvi a sua mensagem através de uma visão”. Nunca permitiremos que os nossos ideais sejam alterados por estranhos. Sei que a nossa pequena quinta já não existe, mas regressaremos e cultivaremos a nossa terra e seremos sustentados por ela”.


8. “Monami” (Meu Filho): Cantando uma canção de embalar ao seu bebé morto, a mãe pergunta porque é que Deus levou um dos seus dois filhos – sendo ela tão boa e devota.

 

9. “Kubata Diá Rosinha” (A Casa de Rosinha): Na casa de Rosinha, havia sempre grandes festas; os tambores de bongo tocavam até ao amanhecer. O seu ritmo era tão forte que os ratos saíam dos seus buracos para dançar”.

 

10. “Luanda M’Bolo” (O Pão de Luanda): O pão que ganhamos com tanto suor – cavando a terra, brilhando, cultivando café e algodão – pão que não é para nós, mas que é feito do nosso suor”.

 

11. “Gienda Diá Luanda” (Nostalgia de Luanda): À noite lembro-me das cabanas de palmeiras, do som do mar, das sereias, das crianças, dos meus amigos — quero regressar. Quero regressar de canoa — para ficar, mas não posso porque tenho de levar a nossa música para o resto do mundo”.

Discografia

LP’s

– 1973 – Álbum “N’Zambi É Deus”(Editora Estúdio)
– 1975 – Angola: Songs of My People ‎(Este álbum, gravado nos Estados Unidos, Monitor Records, incorpora a maioria das músicas do seu álbum “N’Zambi É Deus”).
Singles (Editora Voz do Dono, Valentim de Carvalho)
– 1967 – “Canta Angola
– 1968 – “Mornas e Coladeras” (Lilly Tchiumba & Eleutério Sanches)
– 1969 – “Flor Bailarina
– 1975 – “Kubata Diá Rosinha


Outras reedições pela Editora Ovação


1994 – Angola ‎(Cassete, Álbum)
1994 – Angola ‎(CD, Álbum)
Compilações (CD)
1997 – Africa Today Vol. 1 – Angola (Various, Lilly Tchiumba, Zé Estrela, Mizé)

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